"Meu querido,
Eu lhe escrevo todos os dias. Prova evidente do meu exagero afetivo. Às vezes, são apenas bilhetes, frases curtas, abobrinhas sentimentais, aforismos, notificações de como foi meu dia ou apenas palavras que desenho no ar e depois sopro na esperança de que cheguem aos seus ouvidos. Outras vezes, são cartas imensas. Geralmente narrativas sem importância, episódios banais, destinados a preencher os vazios e as ausências que lentamente compõe esse drama. Resíduos de dias inteiros sem a sua presença e com peito abrasado pelos pedaços dessa tristeza surda.
Cartas que eu nunca mandarei. Sentimentos que você nunca saberá. É egoísmo não remetê-las. Quando você remete uma carta ela deixa de ser sua. Você transfere uma parte de si para o outro e tem escassas possibilidades de retificação. Eu não receberei as suas pelo simples fato de você nunca ter me escrito, talvez porque você não queria mesmo deixar nenhuma parte comigo ou talvez por não haver mesmo o que dizer. Você não receberá as minhas cartas organizadas cronologicamente e tão manuseadas, como livros que se folheia com freqüência na esperança de encontrar um conforto entre suas páginas ou quem sabe uma resposta irrefutável. As releio quando os vôos da mente não me bastam. Ou quando sinto uma vontade infinita de te telefonar e não tenho direito algum nesse ato.
Sempre achei estéril nossas palavras distantes, comecei a lhe escrever cartas para dar visibilidade a esse amor. Lia nossa correspondência nervosa. Nossas mensagens eletrônicas na tela fria do computador, as conservei por anos imaginando apertá-las contra o coração. Como se faz com as fotos de pessoas queridas. Um dia, bastou um clic seco, repentino e impensado. Apaguei todas com um gesto simples do mouse: chegou um dia que a sua ausência ficou insuportável. Nunca me arrependi, mas decidi manter esse amor que não vingou em algum lugar, só para que existam vestígios dele. Desde então, te escrevo as cartas. Como num arquivo perfeitamente organizado, nesses pedaços de papel ordeno minha vida. Poderíamos dividi-los por assuntos ou em ordem alfabética. Um alfabeto das emoções. Aquelas que se vêem em diários escolares de páginas em branco e com margem cor-de-rosa. Para preencher com sonhos e com a certeza de te perder sem um dia te ter tido.
É que o amor não passa. Muda de direção."
[ Lia Araújo]
Extraído de: http://diariosdeumadesconhecida.blogspot.com/
Mas pra escrevê-lo, ela deve ter lido meu coração... só pode!
Oi, Lelê!
ResponderExcluirObrigada... é uma honra...mas, é com uma pontinha de tristeza que vejo que vc tem um amor que te faz sofrer, né?
Isso me dói tanto... eu não queria que outras pessoas sentisse assim, tb!
Mas, é a vida...
Fique a vontade!
Bjos
E que vc consiga superar....
Que essas cartas contem uma história e uma lembrança e que nos faça sorrir!