O fim
Ela sente fortes dores no peito. Reflexo da angústia que carrega. Como pode um corpo aguentar tantos maltratos? Eles vêm da mente que não para de acusar, procurar erros, culpas, rever caminhos mal trilhados, escolhas equivocadas. Vêm do coração magoado, ferido, enganado. Tudo isso se espalhou pelo corpo, apertando o peito, machucando o músculo. A respiração ficou insuficiente. A cabeça lateja, como uma sirene que grita que há uma emergência que precisa ser atendida. O superego manifesta-se constantemente, maltratando-a, açoitando-a até derrubá-la. E ela se deixa jogar, vencida, encolhida na cama, sem ousar sentir pena de si mesma, porque ela acredita que merece tudo aquilo, pois foi treinada – e muito bem treinada – pra não saber viver. Não tem competência pra vida. Não se trata de fazer o papel de pobrezinha, da vítima que precisa ser resgatada pelas mãos do herói. Enquanto pensa em sua vida, refazendo seus caminhos, ela repete pra si mesma que errou, que confiou a outros o leme de sua vida. Ora, quanta infantilidade, quanta vulnerabilidade, quanta tolice! Ela chora. Sente-se pior do que os outros, porque acha que não há mais nada a fazer. Chora porque não vê perspectiva de vida. Chora no seu velório, porque sua vida lhe parece acabada, sem alternativas. Ela chora, porque sabe que não pretende viver mais.
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